É fácil entender por que Greg Graffin (vocal), Brian Baker (guitarra), Greg Hetson (guitarra), Jay Bentley (baixo) e Bobby Schayer (bateria) conquistam públicos de diversas fações musicais. Porque o Bad Religion quebra as regras e rejuvenesce o punk rock com guitarras supertécnicas e letras de altíssimo calibre intelectual. Um show deles, por exemplo, aglomera fãs com camisas do Sepultura, AC/DC, Neil Young, Agnostic Front ou Rush.
A maior expressão do punk está nos palcos. O Bad Religion não foge à regra e lança agora um álbum ao vivo - Tested - após pesquisar arduamente diversos shows gravados na turnê do álbum The Gray Race.
Ao vivo ou em estúdio, Greg é obviamente o porta-voz da banda. Mas, ironicamente, é o membro que menos dá entrevistas. Talvez por ainda estar surpreso com a receptividade dos fãs brasileiros no Close-Up Festival, ele abriu uma exceção e conversou com a ROCK BRIGADE em seu estúdio de gravação, Polypterus, localizado em Ithaca, NewYork.
RB - Além de conquistar novos públicos, o punk contemporâneo tem adquirido influências novas. O Bad Religion se adapta
às mudanças do estilo ou apenas segue sua tradição?
GREG GRAFFIN - Eu não acho que o Bad Religion lembre o velho estereótipo punk. Porém, não digo que somos uma novidade, pois passaria a impressão errada. Acredito que somos diferentes da onda antiga do punk, que morreu em 82. Nossa música veio dos subúrbios, das áreas residenciais em torno das grandes cidades. Supostamente, elas surgiram para abranger a classe média dos Estados Unidos, mas acabaram abrangendo a classe baixa. Estes lugares têm os maiores índices de gravidez adolescente, espancamento feminino, abuso familiar e uso de drogas. Nosso estilo surgiu nestas vizinhanças, que são diferentes das da Inglaterra, onde os subúrbios abrangem a classe trabalhista. Eu me arrisco a dizer que as pessoas de fora não se associaram à classe trabalhista inglesa. Não nos identificamos com este movimento, pois não tinha substância ou algo de interesse a todos. Por algum motivo, os subúrbios evoluíram de forma similar ao redor do mundo. Portanto, nosso estilo musical se popularizou mais do que esperávamos. Jovens ao redor do mundo puderam se identificar com elementos de nossa música.
RB - O Bad Religion tocou em países onde poucas bandas punk famosas já estiveram, incluindo o Brasil e o Japão. Você
acha que o público punk é igual em todos os países?
GREG - A penetração mundial deste estilo faz parte de minha crença. Há uma semelhança notável nos lugares em que viajamos, o que me faz acreditar na integridade e característica única do estilo. Em outras palavras, o punk não é um fenômeno de mídia. É um fenômeno real, o que nos faz sentir bem.
RB - Mas você se sente bem quando o Bad Religion é citado nos grandes veículos de mídia?
GREG - Se você insistir por algum tempo, se transformará na moda do momento [risos]. Mas eu não levo isso muito a sério. É legal que nos reconheçam, mas, se isso não acontecer, continuaremos com nossa música. A banda está no controle, não a mídia. Mesmo assim, apreciamos quando ela nos dá atenção.
RB - Como pintou a idéia de lançar o álbum Tested?
GREG - Gravamos 60 shows da turnê do ano passado, pois levamos alguns DATs [Digital Audio Tape] e um gravador de vários canais. Foi um equipamento bem simples. Nos preocupamos com a posição certa dos microfones, pois queríamos uma gravação com bastante presença. Não queríamos o barulho dos locais do show e não nos importamos em gravar o público. Queríamos um álbum que testasse a sonoridade de nossos instrumentos. Após sua gravação e mixagem, vimos se ele nos daria idéias para o próximo álbum de estúdio. Sendo assim, devemos gravar o próximo álbum com mais spontaneidade. Não esperávamos grandes resultados com estes experimentos. Pegamos gravações desses 60 shows, analisamos cada música e escolhemos 24. O CD também traz três músicas novas, gravadas aqui no estúdio.
RB - Falando de gravações novas, é verdade que o álbum Into The Unknown será relançado com uma nova mixagem?
GREG - Eu devo ter criado este boato. Falei isso uma vez, mas nada está acontecendo agora. Acredito que este álbum sairá, pois posso mixá-lo no meu estúdio. Mas, ao invés disso, prefiro compor músicas novas.
RB - Após a turnê mundial para divulgar The Gray Race, como vocês estão se relacionando com o guitarrista Brian Baker?
GREG - Foi difícil quando Brett [Gurewitz, ex-guitarrista] saiu da banda para se concentrar na gravadora Epitaph. Questionamos até se deveríamos continuar. Quando descobrimos que Brian queria entrar na banda, vimos logo que poderíamos continuar - não haveria substituição melhor. Ao contriário de Brett, Brian tem um estilo esquisito de tocar guitarra. Brett trabalhava mais na composição, mas Brian está praticando isso agora. Assim, está adicionando algo e me ajudando na composição. Ele é uma nova ferramenta que posso utilizar para compor.
RB - A propósito, por que você compôs The Gray Race sozinho?
GREG - Os outros membros não se interessam em compor. Ao contriário deles, eu sou um compositor bastante produtivo. Mas isto não significa que eles sejam membros ruins. Apenas preferem tocar mais do que compor.
RB - É dificil para você compor as partes de todos eles?
GREG - Eu toco todos os instrumentos em meu estúdio, mas eles tocam melhor [risos]. Eu venho com as idéias, digo como devem ser tocadas e eles as desenvolvem.
RB -Ano passado, a gravadora Epitaph lançou a coletetânea de hits AIl Ages. Estando em outra gravadora, vocês concordaram com esse álbum?
GREG - Concordamos e não reclamamos. Até trabalhamos com a Epitaph nessa coletenea, mas é definitivamente um lançamento deles.
RB - Você produziu o novo álbum da banda punk californiana Unwritten Law. Esta é sua atividade principal fora do Bad Religion?
GREG - Sim, eu adoro. Trabalhei com produção no Bad Religion durante toda minha vida. Eu gosto de produzir e trabalhar com outros artistas, pois posso utilizar meu esnidio.
RB - Neste sentido, qual é sua maior contúbuição para as bandas?
GREG - Tenho senso melódico, sou bom nos arranjos e conheço os elementos importantes de uma música. Posso visualizar uma sonoridade mentalmente, sabendo como colocá-la num álbum.
RB - Em suas letras, você tem lidado com tópicos ligados à raça humana, incluindo dignidade e alienação. Você acha que os fás entendem sua mensagem?
GREG - Os maiores fás do Bad Religion entendem, mas, com o passar do tempo, eu notei que leva um ano e meio para os demais entenderem [risos]. Isso aconteceu com todos os nossos álbuns. As pessoas que os compram e entendem suas mensagens de cara estão realmente sintonizadas com a banda. Mas as demais ponderam se gostam ou não. Leva um ano e meio de audições e interpretações para que valorizem o álbum.
RB - Então, um fá do Bad Religion prefere as músicas ou as letras?
GREG - Provavelmente, os maiores fás preferem as letras e os casuais preferem as músicas [risos].